“Tudo é Rio”, de Carla Madeira, é um romance que foi lançado em 2014, se tornando um grande sucesso editorial no Brasil. A autora, que também escreveu “A Natureza da Mordida” (2018) e “Véspera” (2021), tem se consolidado como um dos nomes mais potentes da literatura contemporânea brasileira. Hoje, trago para vocês a minha percepção sobre o romance “Tudo é Rio”.
Este é um daqueles livros que te chocam logo na primeira página. A escrita de Carla é intensa, cortante e, ao mesmo tempo, profundamente sensível. A narrativa flui como o próprio rio que dá nome à obra, impetuosa, imprevisível e, por vezes, devastadora. É o tipo de livro que se lê de uma só vez, como quem entra em algum tipo de transe e deseja não mais sair dele. E foi exatamente assim que vivi essa leitura, em uma única noite, sem conseguir largar.
“Mas e o amor? O que é senão um monte gostar? Gostar de falar, gostar de tocar, gostar de cheirar, gostar de ouvir, gostar de olhar. Gostar de se abandonar no outro. O amor não passa de um gostar de muitos verbos ao mesmo tempo”.
O romance é cru, direto e, por isso mesmo, profundamente humano. Ele remexe com tudo o que há dentro de nós. Provoca raiva, indignação, dor, compaixão e até certo alívio. Mais do que isso, “Tudo é Rio” nos obriga a olhar para nossas próprias feridas, para o que temos de mais vulnerável e de mais contraditório em nós mesmos. A obra nos confronta com questões morais delicadas, com a complexidade dos afetos e com a selvageria que pode habitar até os sentimentos mais nobres.
Comprei o livro movida por alguns trechos ótimos que encontrei nas redes sociais, como frases poéticas, marcadas pela dor e pela beleza. Mas a experiência da leitura completa foi muito mais impactante do que eu imaginava. Eu não estava preparada para a crueldade com que certas passagens são narradas, nem para a entrega total exigida pelo texto. Mas é justamente essa entrega que faz de “Tudo é Rio” uma obra tão marcante.
“O que mais existe no mundo são pessoas que nunca vão se conhecer. Nasceram em um lugar distante, e o acaso não fará com que se cruzem. Um desperdício. Muitos desses encontros destinados a não acontecer poderiam ter sido arrebatadores […]”.
No fim, a sensação que fica é de ter atravessado uma enchente emocional. “Tudo é Rio” mostra que a vida é fluida e que, como a água, os sentimentos escorrem por entre os dedos, nos transformando no caminho. É uma leitura que não passa por nós, ela nos invade, nos habita e nos muda.