Resenha Caminho dos Reis

“A vida antes da morte. A força antes da fraqueza. A jornada antes do destino.”

  • Autor: Brandon Sanderson
  • Editora: Trama
  • Ano de publicação: 31 de Agosto de 2010
  • Quantidade de páginas: 1564
  • Gênero: Fantasia épica
  • Lido dia: 13/01-22/01
  • Avaliação: 4 estrelas
  • Livro 1 de 3

A obra O Caminho dos Reis é diferente da maioria dos livros de fantasia que eu tive contato, Brandon tira todo o primeiro livro para apresentações, seja ela dos personagens, do universo e seus povos, além de introduzir aos poucos lendas e futuros temas que serão abordados.

Normalmente essas apresentações são feitas nos primeiros capítulos, então logo sabemos da motivação do protagonista, ou qual é a ameaça que permeia o mundo; Mas aqui acontece de uma forma um pouco diferente, por mais que saibamos ou tenhamos uma ideia de qual seria tal ameaça, o autor apresenta informações que nos faz duvidar do quanto realmente sabemos.

Acompanhamos os capítulos de Kaladin, Adolin, Dalinar, Shallan e Szed, esses são os principais, por mais que existam outros pontos de vista e personagens com grande importância na história, não fazem parte do círculo principal dos personagens, porém ainda são relevantes e serão mais bem explorados nas próximas edições. 

A narrativa trabalha com a visão dos personagens em sua vida cotidiana, sendo ela bem caótica boa parte das vezes, porém eles ainda não se conhecem ou possuem um objetivo em comum; mantenha o foco no “ainda”, pois o autor já nos apresenta informações que são de interesse mútuo, só quem não sabe são os personagens.

Para aqueles que estão familiarizados com as obras do autor, acredito que não foi difícil entrar de cara nesse universo, algo que, para aqueles que estão tendo contato pela primeira vez, pode ser confuso principalmente nos primeiros capítulos. São muitas informações jogadas como se nós já entendêssemos esse universo, isso pode ser um ponto negativo para muitas pessoas, mas eu particularmente gosto bastante dessa manobra dele.

Tudo vai ser explicado no tempo certo, então não tem tempo perdido com diálogos expositivos apresentando tudo, afinal, esses personagens conhecem o universo, quando convém é explicado para nós aquele elemento -que na altura do campeonato- nós estamos familiarizados e sabemos, mesmo que por cima, o que é.

Em relação à escrita, ela parece difícil mas não é, acaba caminhando em uma linha entre informal, porém sem ser demais, e rebuscada mas não o suficiente para que seja difícil de compreender, com algumas das descrições sendo um pouco cansativas, e eu particularmente tenho dificuldade com as cenas de ação, principalmente quando envolve o uso prático do sistema de magia.

Falando nele, é um tópico ainda não explorado completamente, temos o uso das espadas e armaduras, e até alguns poderes que envolvem luz, mas durante toda a trama podemos ver que é mais do que foi apresentado, e é de conhecimento de poucos personagens. Nem eles, nem nós sabemos da imensidão dos poderes e da magia presentes nesse lugar.

Brandon sabe como fazer personagens humanos e apaixonáveis, cada um com seus medos, problemas, questionamentos que fazem sentido com o contexto que vivem. Seus arcos são bem engrenados e no final (como de praste) todos de alguma forma vão se entrelaçar de uma forma bem natural.

O que falar do nosso protagonista Kaladin, esse é o meu personagem favorito até o momento, sofreu mais do que eu posso descrever, então vou dizer apenas que ele com certeza tem depressão e precisaria de anos de terapia. Dito isso, ele tem um desenvolvimento absurdo, seu passado e presente entrelaçam de uma maneira sutil e graciosa.  

ATENÇÃO: A partir de agora terão spoilers sobre a história

O que me encanta com toda a história de vida dele, é como Tien, seu irmão, mesmo depois da morte influencia nas atitudes do Kaladin, algo que me marcou foi a relação do Tien com pedras, algo que ninguém dá valor, ninguém enxerga a não ser que seja grande o bastante para isso, e ainda sim pode ser vista como um problema, assim como a Ponte Quatro e vista por todos. Mas tanto Tien, quanto Kaladin veem a beleza, e o valor que esses “objetos” possuem. 

Falando agora sobre o segundo arco mais bem desenvolvido, Shallan e Jasnah possuem uma dinâmica muito interessante entre aprendiz e mestre, ambas tendo o fogo do conhecimento ardendo em si, mas também segredos ao redor de suas atitudes e motivações. Seus arcos são compostos de muita filosofia, acredito que o autor tenha escolhidos correntes filosóficas reais para criar as estudadas por elas.

No começo eu não estava gostando tanto dos capítulos, a impressão era como se eles sempre ameaçassem desenvolver a história, mas não faziam, mas ao passar do tempo toda essa neblina de segredos e falta de informação foi espairecendo, mostrando que o buraco é mais fundo do que parece, principalmente no que se trata da família da Shallan. (Não sei se confio muito nesses irmãos dela).

Adolin e Dalinar possuem momentos interessantes, eles quando juntos rondam aquela trama da honra, ela vale mais sendo vista e aceita por todos? Ou o que importa é que você saiba que o que faz é o certo independente do que será dito? Isso de alguma forma pode atrapalhar o que precisa ser feito?

No quesito individual, senti o Adolin meio largado, enquanto todos têm um grande arco de história e desenvolvimento, ele possui um grande número de namoradas. Senti que sem o pai ele não tem muito por onde caminhar, espero estar errada e que ele tenha mais espaço para brilhar, aparentemente ele é muito querido dentro do fandom.

Já Dalinar carrega muita história em suas costas, toda a questão de “quem eu sou vs quem eu era”, as visões e seus significados, ele tentando entender qual realmente é seu papel na guerra, em quem confiar ou não. Toda sua trajetória é feita de escolhas contraditórias entre si, como por exemplo: matar os Parshemanos pois são monstros, mas eles também se parecem com humanos; a guerra é importante, mas será que está sendo feita da melhor forma? Em resumo, relata um adulto confuso com praticamente tudo, até mesmo seus princípios.

Ainda não consigo falar muito sobre Szed, ou sobre a construção da magia que o rodeia, seus capítulos foram misteriosos e mostram um personagem que é diferente do que eu imaginava no primeiro capítulo, esse assassino impiedoso e sádico é realmente isso?

Em resumo, esse livro foca muito nos personagens e em seus desenvolvimentos, aos poucos nos apresenta as mitologias e outras camadas do universo. Mesmo tendo ação e plots, esse não é o objetivo central, mas não faz que seja uma história fraca. 

Falando de modo mais pessoal, normalmente isso me afasta um pouco da história, não significa que não gosto desse tipo desenvolvimento, porém sou fã da ação e gosto quando tem muita coisa acontecendo, como nos capítulos do Kaladin. Porém isso não interferiu como eu achei que iria, li em 10 dias, sendo que no começo era um ou dois capítulos por dia, até que engatei e li sem parar por 3 dias seguidos.

De alguma forma a história nos envolve, mesmo sem que a gente saiba exatamente o porquê, haviam momentos que me sentia extremamente próxima dos personagens ao ponto de torcer por eles como se fossem meus amigos e acreditar que eu estava lá participando de tudo.

Dêem uma chance para essa história, e acredito que você também vai ficar sedento por mais.

Até a próxima!!!

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