E se As Irmãs Blue, de Coco Mellors, fosse um reconto contemporâneo do romance Mulherzinhas, de Louisa May Alcott?

As Irmãs Blue (2024) conta a história de quatro irmãs que cresceram juntas em um apartamento em Nova York (EUA), cada uma com sua própria personalidade. Já no prólogo do livro, a autora apresenta a seguinte reflexão:

“Uma irmã não é uma amiga. Quem poderia explicar o impulso de pegar uma relação tão primordial e complexa, como é a fraterna, e reduzi-la a algo tão substituível e banal como uma amizade? […] A verdadeira irmandade, do tipo em que suas unhas cresceram no mesmo útero e vocês foram empurradas aos gritos por canais de nascimento idênticos, não é igual à amizade. Vocês não se escolhem, e não há o período furtivo de se conhecerem. Vocês fazem parte uma da outra desde o início”.

Esta frase sintetiza perfeitamente a essência do livro. A narrativa que autora traz é completa de reflexões sobre como as irmãs precisam lidar com suas individualidades. O fato de crescerem em um pequeno apartamento em Nova York (EUA), sob a influência de pais disfuncionais, impacta diretamente a maneira como cada uma enxerga a liberdade.

É um romance realista e cruel, que não romantiza relações — sejam elas de amizade, amorosas ou familiares. Para quem busca uma história que se aproxima do “real” dentro da ficção, essa é a leitura ideal.

Mas o que essa história tem a ver com Mulherzinhas (1868)?

Assim como na obra de Louisa May Alcott, Coco Mellors apresenta em As Irmãs Blue a trajetória de quatro irmãs que crescem juntas. No entanto, há uma grande tragédia que marca suas vidas: a morte de uma das irmãs. Enquanto em Mulherzinhas Beth falece na segunda metade do livro, em As Irmãs Blue a perda de uma das irmãs ocorre logo no início, moldando a história de cada personagem desde o princípio.

Os dois livros se entrelaçam ao abordar a perda e a tragédia do luto, mostrando que, mesmo transcendendo décadas e séculos, a perda de alguém importante em nossas vidas é capaz de nos transformar de diversas maneiras — sejam elas de maneira boa ou ruim.

Além disso, as irmãs Blue compartilham semelhanças com as irmãs March, ainda que cada uma tenha suas nuances próprias. Podemos enxergá-las como uma possível representação das March no século XXI, especialmente sob a percepção melancólica e crua da escrita de Mellors.

Ambos os livros nos fazem refletir sobre aspectos da vida feminina que, muitas vezes, só fazem sentido para nós mesmas — coisas do nosso próprio mundo.

Por isso, sempre que tenho a oportunidade, recomendo a leitura de Mulherzinhas, mas, principalmente, a de As Irmãs Blue, a qual é uma história emocionante e envolvente. Ao explorar essas duas obras, vocês poderão perceber a evolução dos romances e a forma como as relações sociais femininas são retratadas ao longo do tempo, contrastando o século XIX com a contemporaneidade.

Até a próxima!

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