I want to be great or nothing.
Eu quero ser perfeita ou nada.
Quando penso em Mulherzinhas, sempre penso no quanto Louisa May Alcott nos presenteou com diversas camadas em uma história. Indo ao extremo e à fissura mais calma, Alcott nos presenteou com quatro mulheres de personalidades diferentes, cada uma com a sua singela e profunda personalidade em Mulherzinhas.
Hoje, eu quero falar sobre Amy March. Na opinião do público literário, Amy é, por vezes, a personagem que menos causa simpatia nos leitores. Ela é ambiciosa e vaidosa com o seu futuro. Ela não deseja apenas ser boa, ela deseja ser esplêndida naquilo que faz. Em um livro marcado por diversas camadas entre afetos e, principalmente, vocações femininas, Amy nos demonstra o desconforto do que é querer atingir a perfeição daquilo que fazemos, sendo o perfeccionismo em sua mais pura face.
Mas a questão é: o que isso diz sobre ser mulher em um mundo que nos cobra tanto?
Para Amy, a perfeição não é apenas uma escolha ou um capricho de querer ser algo grande. Pode, até mesmo, ser vista como uma estratégia para sobreviver àquela realidade destacada no livro, que, mesmo em alguns critérios, perdura também na sociedade atual. Em uma época em que o casamento era, acima de tudo, um contrato econômico, ser perfeita era, mais do que tudo, algo esperado de uma mulher. A perfeição era como uma construção social em razão da sobrevivência.
Amy sabia que, para chegar a um bom lugar e não ter a vida semelhante à da mãe e à da irmã Meg, precisava conquistar bons espaços, conhecer pessoas que alavancariam a sua realidade. Muitos podem observar essa escolha como um traço arrogante da personalidade da personagem, mas podemos interpretar isso como alguém que sabia o pouco espaço que mulheres tinham no meio elitista — principalmente na arte da pintura, que era uma de suas vocações. Amy tinha em mente que não havia outra escolha além de ser perfeita.
Além de todas essas questões, Amy já cobrava de si mesma, internamente, para ser perfeita. A exigência de ser perfeita é, muitas vezes, interna e externa. Além de colocarmos toda a pressão em nós mesmas para ser ou para nos tornarmos algo grande, a própria sociedade já nos cobra isso. Mas, além de toda essa pressão em si mesma e dos outros sobre ela, Amy queria ser apreciada pelo seu talento também, ser vista além do que era esperado dela enquanto mulher — delicadeza, polidez, decoro e beleza. Ela queria ser enxergada por quem realmente era.
Porém, mesmo séculos depois, tendo em vista todo o contexto de Amy March, as mulheres ainda crescem acreditando que precisam fazer tudo com excelência, que precisam ser perfeitas no que fazem. Isso é o que cresce em nós, mulheres, desde crianças. Somos ensinadas a ser cuidadosas, delicadas, bondosas e bonitas, sem poder falhar. Mas Amy, mesmo nos moldes estabelecidos no contexto do livro, assume que quer ser grande. Que quer vencer. Ir além do que lhe era esperado.
Mulherzinhas nos traz muitos ensinamentos sobre a vida por meio da história das irmãs March. Sabemos que Amy está longe de ser perfeita, como qualquer ser humano. Mas ela nos faz entrar em “confronto” com nós mesmos, ao demonstrar que quer atingir essa perfeição. Por isso, muitos leitores não gostam dela, mas, quando param para analisar, percebem que a personagem nos provoca o desconforto por sermos exatamente como ela. Todo mundo quer ser adorável e gentil, assim como quer ser reconhecido pelo que é também.
Creio que o pensamento sobre ser perfeito sempre irá perdurar na sociedade. Todos nós temos isso em nós mesmos. E Alcott demonstra muito bem essa dualidade por meio de Amy. Que possamos nos permitir querer ser grandes mesmo em meio ao mar de nossas imperfeições.
Espero que tenham gostado dessa análise (mais uma de muitas outras) sobre Mulherzinhas. Até a próxima!