Dessa vez, com base na temática da escola literária naturalista, trago para vocês curiosidades sobre o principal autor desse período: Aluísio Azevedo, conhecido principalmente por sua obra “O Cortiço” (1890).
Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo teve uma trajetória um tanto singular. Antes de se consagrar como escritor (e torna-se um dos primeiros autores a viver da escrita no Brasil), ele era caricaturista e jornalista em São Luís do Maranhão. Sua entrada na literatura foi, em parte, motivada pela necessidade financeira para sustentar a família após a morte do pai. Anos depois, ingressou na carreira diplomática (1895), abandonando (maior parte) a literatura. Agora, vamos as curiosidades:
#1 — O escândalo que inaugurou o Naturalismo no Brasil:
O romance “O Mulato” é considerado o marco inicial do Naturalismo no Brasil. A obra causou enorme polêmica e escândalo na sociedade da época, não apenas por seu teor anticlerical e pela crítica à hipocrisia social, mas principalmente por abordar de forma crua os diversos preconceitos da época, em principal o racismo. Pesquisas do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) destacam que o livro foi um “romance de tese”, escrito com o objetivo explícito de combater o racismo. No entanto, sua representação do personagem Raimundo (o “mulato”) ainda carrega estereótipos da época, mostrando as complexidades e contradições do pensamento abolicionista do século XIX.
#2 — O cortiço como personagem principal:
A obra “O Cortiço” é o ápice de sua carreira. Estudos da USP e de pesquisadores da área analisam como o cortiço é personificado, tornando-se o verdadeiro protagonista do romance. Ele é descrito como um organismo vivo, que cresce, respira e exerce uma força determinista sobre seus moradores. As personagens são moldadas pelo meio (o cortiço), pela raça (herança biológica) e pelo momento histórico. A animalização dos personagens (como Jerônimo e Rita Baiana) é uma técnica naturalista para mostrar a bestialidade humana sob pressão social.
#3 — A diplomacia e o abandono da literatura:
Em 1895, Azevedo foi aprovado em um concurso para o corpo diplomático. A partir desse ponto, mudou-se para a Espanha e, posteriormente, para o Japão, Argentina e outros países. Esse fato é amplamente discutido em pesquisas acadêmicas, visto que ele praticamente abandonou a carreira literária. As razões são atribuídas ao cansaço das polêmicas, à estabilidade financeira oferecida pelo serviço público e, possivelmente, a um certo esgotamento do projeto naturalista que ele tão bem representou. Ele faleceu em Buenos Aires, em 1913, longe dos holofotes literários.
Dessa forma, Aluísio Azevedo foi um grande escritor brasileiro. Sua obra, especialmente “O Cortiço”, permanece como um documento social imprescindível para entender a formação da sociedade brasileira urbana, com suas misturas, conflitos e violências. Ele elevou o romance a uma ferramenta de análise social, influenciando gerações de escritores que viriam a retratar as classes populares.
Espero que tenham gostado do post. Até a próxima!