A liberdade em falhar em Jo March, de Mulherzinhas.

Eu gostaria de fazer algo que fosse importante, que permanecesse.

Na análise de hoje, resolvi trazer mais camadas dentro da história das irmãs March em Mulherzinhas. Em contraste com a busca irrefutável pela perfeição de Amy March, Jo March busca ser livre, verdadeira e reconhecida por ser exatamente como é. Jo é aquela personagem que não se encaixa nos estereótipos esperados de uma mulher (principalmente no contexto da história). Jo vive parte de seus sonhos por meio da escrita.


Jo March corre, fala alto, prefere calças a vestidos — todo e completo oposto do que esperavam que ela fosse. A sua maior necessidade era ser fiel ao que acreditava e a si mesma. Ela preferia mais ser inteira e real do que perfeita. Jo se permitiu falhar em troca da liberdade de ser verdadeiramente quem é.


A escrita de Jo é a extensão do que ela é. Ela não escreve ou cria histórias como meio de agradar à sociedade, mas sim para satisfazer a si própria e aos seus desejos. Por meio de sua escrita, ela conta as verdades que a sociedade daquela época não estava pronta para ouvir, como uma mulher, em uma de suas histórias, tendo o seu final feliz sem estar casada e com filhos. Em uma época em que o ápice, como padrão da sociedade, para uma mulher era casar e ter uma vida doméstica, Jo queria exatamente o oposto. Na realidade, pouco lhe importava se casar. Ela apenas queria escrever e publicar os seus escritos em seu nome, o que, na época, não era comum. Muitas mulheres publicavam livros por meio de codinomes masculinos.


Mas, enquanto Amy buscava a perfeição como forma, até mesmo, de proteção, Jo rejeita completamente essa oposição. Para ela, a perfeição é como se fosse uma prisão de sua criatividade. Não poder errar e não poder ousar não era algo que estivesse em sua essência. E, devido à sua aversão a seguir o padrão que lhe era imposto, Jo faz a escolha do caminho mais difícil para uma mulher naquela época, que era o de ser verdadeira em sua essência.


Ao fazer essa escolha, Jo passa a carregar o peso de não ser o que os outros esperam. Ela carrega o peso de não ser compreendida, não somente pela sociedade, mas também pelos seus familiares. Mas é exatamente nesse ponto que Jo se eternalizou para muitos leitores, por representar todos aqueles que escolhem não ser o que a sociedade esperava, todos aqueles que escolheram a liberdade de falhar em troca da perfeição.


O que aprendemos ao ler Mulherzinhas e conhecer Jo March é que ela escolhe não ser perfeita. Ela escolhe ser ouvida. Ela deseja ser lida. Deseja ser respeitada em sua verdadeira essência. Em uma época em que mulheres precisavam ser delicadas ou seguir os moldes para serem “vistas” e “ouvidas”, Jo escolheu sua liberdade em razão de sua felicidade.

Ao contraste do que Amy traz à tona — o desconforto pelo encontro com nossa perfeição —, Jo nos lembra que ser imperfeita e falhar é a escolha para viver uma vida livre de padrões inalcançáveis.

Espero que tenham gostado dessa análise. Até a próxima!

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Isa e Mari

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Somos duas amigas que compartilham de uma paixão pelas áreas da linguística e literatura, com isso, decidimos compartilhar nossos aprendizados, ideias, resenhas e outras coisas a mais…

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