Lançado em 2020, durante a pandemia, o álbum Folklore da Taylor Swift chegou como uma surpresa para os fãs da cantora. Fugindo de toda a estética de seus álbuns anteriores, Folklore trouxe composições melancólicas e com letras mais introspectivas, características principais do gênero musical indie folk.
Mas o que a Estilística tem a ver com um álbum musical? Bem, absolutamente tudo.
A Estilística é a área da linguística que estuda os recursos expressivos da linguagem verbal e não verbal. Ela trabalha em quatro áreas principais: estilística fônica (relacionada à sonoridade das palavras), estilística morfológica (associada, principalmente, aos neologismos), estilística sintática (figuras de linguagem) e estilística semântica (figuras de linguagem associadas às relações semânticas).
Esta última, a Estilística Semântica, é a que está ligada diretamente à música. Por trabalhar muito com o significado das palavras e suas figuras de linguagem (dependendo da composição, qual figura de linguagem será utilizada pelo compositor), a estilística semântica é aplicada, neste âmbito, na escolha de palavras e na forma como seu significado irá impactar os ouvintes emocionalmente. Essa estilística, especialmente, Taylor utiliza bastante em seu álbum Folklore.
Como exemplos práticos em suas composições, músicas do álbum como “The 1” e “Exile” — parceria com Bon Iver — trabalham expressamente com a estilística semântica, como podemos ver:
I’m doing good, I’m on some new shit
Estou indo bem, estou tentando umas merdas novas
Been saying “yes” instead of “no”
Ando dizendo “sim” em vez de “não”
I thought I saw you at the bus stop, I didn’t though
Pensei ter visto você no ponto de ônibus, mas não vi
[…]
It would’ve been fun
Teria sido você
[…]
If you would’ve been the one
Se você tivesse sido o certo
O léxico da música é confessional, construindo uma relação entre a intimidade e a aproximação. A escolha de palavras neste trecho nos faz interpretar que se trata de uma pessoa que tenta seguir em frente, mas se vê constantemente presa no passado, no que a relação poderia ter sido. Neste caso, este trecho traz a ambiguidade semântica entre o “novo” — de seguir em frente — e a permanência da lembrança de uma pessoa com quem não se tem mais contato, causando ao ouvinte uma certa tensão melancólica.
You know the greatest loves of all time are over now
Você sabe, os maiores amores de todos os tempos acabaram agora
Neste trecho, podemos analisar a ironia das palavras. A frase “greatest loves of all time” é reduzida a algo do passado. O valor semântico, trazido aqui, é anulado devido à certeza do fim daquela relação que nunca se concretizou, reforçando a estilística melancólica carregada pelas composições de Folklore.
Assim, os principais ponto da composição de “The 1” são voltados para os recursos semânticos da ambiguidade, pelo “querer no presente”, mas estando com a perda iminente ali. Essa música trabalha com os significados do que uma relação romântica poderia ter sido, da nostalgia, do luto pela perda e da ressignificação de uma memória passada.
Em “Exile“, parceria de Taylor com a banda Bon Iver, podemos analisar a estrutura estilística semântica do seguinte modo: encontramos um recurso semântico — utilizado bastante em composições — já no título da música. O significado da palavra irá remeter ao sentido de alguém banido, expulso, mas, no contexto dessa composição, será no sentido de uma expulsão de um lugar simbólico para os eu-líricos.
Por ser um dueto, a composição trabalha muito com o sentido do “desencontro”. A música é um diálogo entre dois eu-líricos, com versos que não irão se completar, mas sim se contrapor um ao outro, como podemos observar:
Bon Iver:
You never gave a warning sign
Você nunca deu um sinal de aviso
Taylor Swift:
I gave so many signs
Eu dei tantos sinais
Podemos observar um ruído na comunicação dos eu-líricos, sendo ele proposital para se encaixar na estilística da música, nos fazendo interpretar o desgaste do relacionamento apresentado.
Essa composição é, principalmente, construída como um diálogo. A ambiguidade, a metáfora e o contraste são os recursos semânticos principais que foram utilizados nessa composição, tornando-se elementos centrais nas composições melancólicas e introspectivas do álbum.
A escolha da estilística semântica foi um fator crucial na construção das músicas do álbum Folklore. As figuras de linguagem trabalhadas nas letras desse álbum ajudam na profundidade de cada composição, fazendo com que o ouvinte sinta cada emoção que o eu-lírico queira transmitir. Por isso, também foi o álbum musical escolhido para tratar sobre a estilística dentro do campo musical. É fascinante ver como a linguística está presente e relacionada a praticamente tudo em nosso mundo.
Taylor soube trabalhar muito bem esses elementos, presenteando nós, fãs do indie folk, com um álbum completo de composições que são carregadas em nossa memória musical por um longo tempo.
Espero que tenham gostado dessa análise. Até a próxima!