Entrando um pouco na temática das escolas literárias brasileiras, resolvemos trazer também um pouco sobre os autores conhecidos desse período!
Dessa forma, começamos pelo conhecido e renomado Gonçalves Dias, um dos principais representantes do romantismo brasileiro da primeira geração.
Foi durante o curso de direito em Coimbra/PT que seu sentimento nativista e nacionalista começou a crescer. Longe de seu país, Gonçalves Dias idealizava um Brasil baseado em suas próprias lembranças da infância. Foi nesse contexto de saudade que escreveu “Canção do Exílio” (1843). O poema não expressa apenas saudade, mas expressa também uma forma de afirmação sobre sua pátria simbólica.
Depois dessa breve introdução do autor, seguimos aqui com os fatos e curiosidades menos conhecidos:
#1 — O indígena de sofrimento vs. O indígena de herói:
Sabemos que a imagem tratada por Gonçalves Dias sobre o indígena é complexa. Enquanto em poemas épicos como “I-Juca-Pirama” e “Os Timbiras” ele trata sobre o indígena como um herói nobre e corajoso, em seus poemas líricos, como em “Leito de Folhas Verdes”, ele retrata o indígena como um ser sentimental, triste e melancólico, um “índieo de sofrimento”, que reflete a subjetividade do homem romântico. Essa dualidade mostra que o indígena era, para ele, mais um projeto estético e nacional do que uma representação realista, o que faz jus ao que os autores queriam trazer para historiografia literária brasileira na época.
#2 — Pioneiro da etnografia brasileira e pesquisa em campo:
Gonçalves Dias foi um dos primeiros intelectuais brasileiros a realizar um trabalho sistemático de pesquisa de campo sobre as línguas e os costumes indígenas. Como etnógrafo e folclorista, participou da Comissão Científica de Exploração (1859-1861), percorrendo o Norte e Nordeste do Brasil. Ele coletou vocábulos, estudou gramáticas de línguas nativas e registrou mitos e lendas. Seus relatórios e anotações, disponíveis em arquivos como os do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), são considerados preciosos para os estudos etnográficos até hoje. Essa paixão pelo conhecimento “verdadeiro” do Brasil dialogava diretamente com sua produção literária.
#3 — A perda dos manuscritos e a morte trágica:
A morte do autor é um dos episódios mais dramáticos de nossa história literária. Após se tratar de saúde na Europa, ele voltava ao Brasil no navio “Ville de Boulogne”, que naufragou na costa do Maranhão, em 1864. Gonçalves Dias sobreviveu ao naufrágio, mas, conforme relatos de sobreviventes publicados em periódicos da época (como o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro), ele foi esquecido no camarote, já que todos acreditavam que ele havia sido salvo. A tragédia foi dupla, pois, além de perder a vida, ele perdeu uma mala repleta de manuscritos inéditos e anotações de suas pesquisas etnográficas, um prejuízo incalculável para a cultura nacional. A ironia amarga é que ele morreu a poucos quilômetros de sua terra natal.
Assim, essas são as principais características interessantes sobre o autor. Sabemos que as obras de Gonçalves Dias são consideradas um grande ápice do nacionalismo romântico do Brasil, além de que foi muito importante para construção literária nacional brasileira. No entanto, críticos modernistas, como Mário de Andrade, apontaram o caráter por vezes idealizado e europeizado do “ser indígena”. Contudo, sua importância histórica é inquestionável. Ele foi fundamental para construção de um passado heroico e uma identidade para o Brasil, utilizando a literatura como ferramenta de construção nacional. Sua pesquisa etnográfica, embora menos divulgada, mostra um intelectual multifacetado, empenhado em conhecer o país para além dos salões da corte.
Espero que tenham gostado do post. Até a próxima!