A Vida Invisível de Addie LaRue, de V. E. Schwab

“O que é uma pessoa, senão as marcas que ela deixa para trás?”

A Vida Invisível de Addie LaRue, obra da autora V. E. Schwab, lançada em 2020, narra a história de Adeline LaRue, uma jovem sonhadora que, sufocada pelo futuro de uma vida pré-determinada no interior da França do XVIII, ousa desafiar o destino. Para escapar de um casamento arranjado, ela sela um pacto com uma entidade das sombras, em troca da tão desejada liberdade. Mas o desejo vem com um fardo cruel, com Addie ganhando a imortalidade, porém sendo condenada a nunca mais ser lembrada por ninguém. Assim, Addie atravessa os séculos como uma presença esquecida, tentando deixar marcas em um mundo que insiste em apagá-la. Mas, trezentos anos depois, um rapaz em uma livraria a reconhece e diz: “Eu me lembro de você”. E, então, tudo aquilo que Addie achava que nunca mais poderia acontecer ocorre da forma mais fatídica possível — mudando tudo o que ela pensava já saber desde o pacto.

Anteriormente, já havia falado sobre este livro aqui no post de indicações de leituras para o outono. Mas, hoje, resolvo trazer para vocês uma síntese da história — que é extremamente fantástica.

Confesso que Addie LaRue foi uma das leituras mais marcantes da minha vida até o momento. O fato de V. E. Schwab ter criado um universo em que pessoas fazem pactos com um deus místico em troca de liberdade, mas cujo preço é sempre algo a ser pago e, nesse caso, o preço mais doloroso para Addie, o esquecimento. É uma leitura realmente digna daquelas que continuam a nos fazer pensar anos e anos depois.

Ao longo da leitura, é possível que você vá se compadecendo da história de Addie e se perguntando se, no lugar dela, diante do desespero de um futuro roubado, não teria tomado a mesma decisão. Mas ela, ao menos, não sabia a consequência nem o peso de sua escolha até retornar para casa após o pacto com Luc — o deus sombrio — e não ser reconhecida pelos próprios pais, sendo expulsa do lugar que sempre conheceu como lar.

O que é incrível durante essa narrativa é o modo como a autora permeia entre o presente e o passado durante a narrativa da história, nos permitindo compreender a trajetória da personagem de forma plena. Particularmente, amo quando os autores fazem isso, pois me sinto mais envolvida e entretida no universo da história.

Além disso, temos um fator muito interessante para a trajetória de Addie — sua relação com o Luc. Por nunca ser lembrada, Luc é o único ser que se lembra de Addie e que, ao longo dos anos de sua imortalidade, retorna para vê-la. É uma relação estranha, mas instigante. Addie e Luc vão desenvolvendo certa afeição com o passar do tempo, até que chegam aos momentos de decepção que rompem a relação entre os dois. Mas, mesmo que não tenham “dado certo”, ainda assim é uma relação a ser apreciada. Afinal, ele deu a Addie a liberdade — mas tirou dela a chance de criar laços, justamente por jamais poder ser lembrada.

Também temos o Henry — personagem que se lembra de Addie. Ao longo da história, temos o ponto de vista dele e de sua história e, assim, compreendemos o motivo pelo qual ele consegue se lembrar dela. Um romance nasce entre os dois, mas se dissolve pela descoberta de Luc, que não havia deixado um furo em seus feitiços, mas havia apenas deixado Henry se lembrar de Addie como uma forma de punição.

Esse livro é profundo, encantador, e um verdadeiro presente para a literatura contemporânea. Entender Addie, sua percepção sobre o mundo, e como V. E. Schwab conseguiu transmitir esses aspectos aos leitores — sobretudo por meio da variação temporal — é, sinceramente, incrível. É, com certeza, uma leitura recomendada, novamente, e que vale muito a pena.

Finalizo essa resenha com uma das frases mais marcantes do livro para mim:

“O que ela precisa são de histórias. Histórias são uma forma de se preservar. De ser lembrado. E de esquecer. Histórias vêm em tantas formas: em carvão, em canções, em pinturas, em poemas e em filmes. E nos livros. Livros, ela descobriu, são uma forma de viver mil vidas — ou de se encontrar forças em uma vida muito longa”.

Afinal, todos nós queremos ser lembrados.

Até a próxima!

Referências da leitura:

  • Autora: V. E. Schwab.
  • Editora: Galera Record.
  • Ano de publicação da obra: 6 de outubro de 2020.
  • Quantidade de páginas: 504.
  • Gênero literário: Fantasia; Romance; Ficção histórica.

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Isa e Mari

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Somos duas amigas que compartilham de uma paixão pelas áreas da linguística e literatura, com isso, decidimos compartilhar nossos aprendizados, ideias, resenhas e outras coisas a mais…

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