Sistemas de magia: Terceira Lei de Sanderson

Expanda o que você já tem antes de adicionar algo novo.

Chegamos à terceira e última Lei de Sanderson. Já falamos sobre o funcionamento da magia e a importância das suas limitações. Agora vamos para um tópico em que muitos autores se perdem e muitos outros brilham.
Um problema para quem escreve sobre fantasia ou ficção científica é pensar sempre que “quanto mais, melhor”, quando, na verdade, isso pode acabar atrapalhando a experiência e a própria construção de mundo. Então, nem sempre uma história com muitos elementos é realmente boa, mas “um sistema de magia com relativamente poucos poderes que o autor considerou em profundidade” pode ser bem melhor.
Um exemplo é o segundo filme de O Espetacular Homem-Aranha, que foi criticado por colocar muitos vilões e não trabalhar corretamente as subtramas, além do roteiro confuso. Outro exemplo – para quem estava no auge do booktok na pandemia – é ACOTAR, uma das romantasias mais famosas e queridinhas do público, que recebe muitas críticas por ter coisa demais e não explorar direito nenhuma, com personagens tendo poderes e resolvendo soluções apenas com as graças do roteiro.
Para evitar esse problema de desorganização, é interessante que o autor evite colocar muitos elementos em um espaço limitado, tentando mostrar como esses poderes interferem na vida do personagem e daqueles ao seu redor, em vez de criar um novo poder para resolver cada situação.
Na hora de desenvolver esses poderes, é necessário que o autor pense em como isso irá afetar e conversar com o universo que foi construído, utilizando áreas sociais, econômicas, históricas e políticas para “extrapolar” as ações desse poder.
Esse “extrapolar”, como Brandon fala em seu blog, é se perguntar “o que acontece quando?”. Então: “o que acontece quando descobrem um filho escondido de um deus?”, “o que acontece quando se mata o imperador que controla os poderes daquele universo?”, “o que acontece se um anel poderoso vai parar nas mãos de seres que podem se corromper?”
Mas é errado ter uma enorme lista de poderes? Não, mas é interessante que eles se relacionem com o local, a cultura e com outros poderes, criando uma interconexão. Assim como na própria natureza temos diversos cenários, ambientes ou seres, mas que, de alguma forma, fazem sentido e se comunicam entre si.
Podemos usar como exemplo Pantera Negra: o vibranium não é apenas um metal jogado na história, e sim está relacionado à cultura do local, como um símbolo de herança e identidade, que só pode ser usado depois da aprovação da tribo. Outro filme que representa isso é Encanto, onde cada membro da família possui poderes que têm propósitos com a comunidade e refletem suas características.
Toda essa lei culmina na ideia de “combinar” personagens, magia, cultura e sociedade, pegando partes de cada um e aprofundando, não necessariamente criando algo novo. Ao invés de criar uma nova religião para cada grupo social na história, por que não trazer aspectos, dúvidas ou pontos específicos dentro do mundo em que a história se passa, e trabalhar como o ponto central? Dessa forma, uma magia simples – como mudar a forma do corpo – pode gerar toda uma sociedade, com costumes, religião e estilos totalmente próprios, mantendo a coesão narrativa que já estava sendo trabalhada.
Para fechar, podemos ver que o Brandon preza muito pelo todo, sempre fazendo com que os mais variados aspectos narrativos que compõem uma obra fantástica conversem entre si. Lembrando que são apenas dicas para quem quer escrever, analisar ou simplesmente conhecer como funciona uma construção de mundo – essa última é meu caso. Sempre gostei de fantasias, e é muito interessante observar esses padrões em obras e como não são regras absolutas, mas que nos ajudam a conhecer mais o que estamos lendo.
Hoje em dia, eu observo mais detalhes e coisas que a Mari de antes não imaginava que poderia enxergar, e espero que todos que acompanharam essa saga de posts possam começar a ver a arte que é escrever uma fantasia.
Um beijo, até o próximo post!!

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Isa e Mari

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Somos duas amigas que compartilham de uma paixão pelas áreas da linguística e literatura, com isso, decidimos compartilhar nossos aprendizados, ideias, resenhas e outras coisas a mais…

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